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16 de dez. de 2015

DOCE ILUSÃO



Queria poder ler o que se passa na mente das pessoas
Aquele fulano que está sentado no banco da praça olhando para o nada
O que será que se passa ali?
Aquele garoto olhando a chuva cair da janela de seu apartamento
Aquela menina de olhos melancólicos que observa a paisagem do lado de fora do ônibus
A vida das pessoas é uma história contínua e infinita,
seja se referindo ao futuro ou ao passado

É como se tudo nunca houvesse um começo ou um fim
Tudo sempre está no meio
A maioria dos nossos dias são medianos
até que a balança pese pro lado péssimo ou pro maravilhoso

Nada nunca fará sentido se buscar por ele
O sentido das coisas é atribuído
Ele na realidade não existe.
A solidão é física e real e ela nunca acaba ou vai embora
Gruda em você como perfume ruim e te acompanha como sombra fantasma.
As coisas normais sempre serão reais para as pessoas
Mas nunca para nós
Que enxergamos a vida por um ângulo deturpado demais para que se viva de forma normal
Você nunca vai se encaixar
você é uma estranha num mundo que não te pertence
Viveremos eternamente dentro de nós mesmas
Essa é a nossa verdade imutável.

Mariana Carolina.

1 de set. de 2015

CARTA: DEDICADA AO MEU PAI.



     Não sei exatamente como começar esta carta, é muito difícil dizer o que sentimos quando o sentimento é maior que a nossa própria compreensão das coisas. Mas vou tentar, porque você merece e hoje é seu aniversário!.
     Meu pai amado e querido, é com lágrimas nos olhos que lhe escrevo o que consigo exprimir de dentro de mim. Realmente não sei explicar o que sinto por você, é amor demais, é admiração profunda é dependência química. É mais que apenas amor de filha é como uma força gravitacional que me prende ao planeta, o senhor é o meu motivo de continuar, é o que me dá forças para aguentar firme, é o meu porto seguro, a pessoa mais importante da minha vida; a quem eu mataria e morreria por. Fico desesperada ao pensar que um dia não o terei aqui, me sinto apavorada só de imaginar esse mundo sem o senhor, vai ser como se eu não tivesse mais onde pisar, como se não existisse mais chão... não consigo nem pensar em como vai ser. 
     Ó pai tu és o único presente da minha existência, a única coisa que justifica minha vinda a este lugar condenado, caso contrário eu não poderia conhecê-lo e isso seria inestimavelmente lastimável. Meu pai a pessoa mais extraordinária que conheço. O melhor pai que alguém pode imaginar, e sei que a maioria das pessoas dizem isso, mas o senhor realmente faz jus a esse título, você é realmente pai! Sempre está lá quando precisamos, quando tudo dá errado, quando tudo dá certo, quando temos dúvidas, quando precisamos de qualquer coisa... o resultado é sempre o mesmo: Você está lá. E essa segurança de saber que tem alguém por você, que existe uma pessoa com a qual você sempre, sempre poderá contar não tem preço, não existe nada que pague isso.
     Sabe é até engraçado, porque logo o senhor que nunca pôde realmente contar com ninguém, que sempre foi enganado pelas pessoas que mais amava, a pessoa com quem a vida foi tão cruel e terrível, enxerga as coisas de maneira tão bonita, de forma otimista e confiante. Confiante que um mundo novo e bom irá acontecer pra você, é como se tudo o que tivesse acontecido fosse pra que mudasse, pra que desistisse, pra que abandonasse tudo, mas foi exatamente o contrário que fez, continuou porque era isso que precisava fazer e não exatamente o que queria, continuou por nós, e por isso te admiro te respeito e te amo. Pela sua fibra moral, e pelo homem forte, determinado e com tanta personalidade que possui. Devo grande parte do que sou ao senhor, por ser esse exemplo de pessoa implacável que não muda sua posição diante dos problemas e diante do mundo desabando em cima de você. Tenho tanto, mas tanto orgulho de ser sua filha que jamais conseguirei descrever em qualquer carta, mas saiba que dizer: Sou filha do meu pai! È uma das minhas frases preferidas, e uma das que mais me descrevem como pessoa. 
     Eu gosto de pensar nos detalhes dos acontecimentos, e em como sua presença deixa tudo mais fácil, faz com que eu esqueça das coisas que me entristecem, faz com que eu valorize a simplicidade da vida. Como quando eu digo sem nenhuma pretensão "Que vontade de tomar sorvete" e no outro dia o senhor me liga me perguntando que sabor eu quero, porque você me ouviu dizendo que estava com vontade. Ou como quando vai me levar aos lugares e ao invés de me deixar num local próximo ao que vou descer, porque é completamente fora de rota de pra onde está indo, faz questão de me deixar exatamente na porta. Ou como sempre diz pra que eu te ligue quando tiver chegando pra me buscar no terminal porque está muito tarde, e aí quando ligo para avisar você diz que já está lá me esperando. Ou como quando eu penso que irá me julgar e me dizer o que tenho que fazer quando vou lhe contar o que está me deixando em dúvida e você simplesmente diz: " Uai minha filha você é quem sabe, escolha o que te faz sentir melhor!". Ou ainda quando me sinto perdida, sozinha e desanimada, sem forças e tudo o que consigo lhe dizer é: " Como será que vai ser a minha vida pai?" e você só responde: " Vai ser boa minha filha, vai ser boa..." com toda a certeza que poderia existir no mundo! Com apenas essa simples frase ganho todo o meu dia, sinto uma felicidade tremenda, inexplicável. Esses simples detalhes, essas coisas rotineiras do dia a dia é que me fazem saber o quanto nos ama, o quanto se importa e o quanto se esforça sem perceber que é um esforço, por nós, que nem ao menos merecemos, o senhor é um pai muito melhor do que sou como filha pra você, mas isso nem lhe importa. Me sinto privilegiada e sortuda quando penso que o senhor dentre todas as pessoas existentes do mundo foi o escolhido para ser meu pai, o que o senhor me deu não tem preço, não há nada que pague tudo o que já fez por toda a nossa família.
    Eu realmente te desejo tudo o que de mais maravilhoso possa existir nessa Terra, que deus esteja contigo te iluminando todos os dias, que o seu galardão seja em todos os lugares onde esteja porque tudo é pouco pra você, e sei que até Deus sabe disso. Eu te amo mais que tudo no mundo, mais que a mim mesma e a minha vida, e eu espero que um dia eu possa enxergar a felicidade nos seus olhos. Feliz aniversário pai, que este seja o primeiro de um novo tempo de céu aberto em sua vida. Parabéns pra sempre.

De sua única filha:
Mariana Carolina. 

9 de mai. de 2015

ENSAIO DE NOSTALGIA



         Quando eu tinha seis anos conheci um garoto que parecia ser a coisa mais linda do mundo, seu sorriso era o mais bonito que já vira até então. Ele era mais velho, meu vizinho e amigo do meu irmão. 
Era engraçado que ele me tratava como uma irmã, acho que devia ser porque ele não tinha irmãs apenas um irmão; por isso tinha um cuidado a mais.
Lembro que ele aparecia em casa para jogar videogame com meu irmão, tínhamos um Super Nitendo daqueles que vinham com um cartucho do Mário world (melhor videogame). Sempre gostei de assistir as pessoas jogando esses jogos de passar fase, esperava ansiosa para ver o "vira"; meu irmão sempre me gritava para assistir, era divertido, como se fosse o "Happy Ending" dos jogos. Enquanto os observava jogar ás vezes tentavam me ensinar, mas eu sempre fui horrível nisso, ficava sempre apavorada e morria a toda hora, principalmente porque queria mostrar que conseguia, e aí que me atrapalhava toda. Jogava top gear com o Pedro, o tal amigo que mencionei antes. Jogos de corrida são mais fáceis, assim como os simuladores de vida e os de luta, por isso sempre foram os meus preferidos. Talvez ele percebesse minha chateação e quisesse que eu me divertisse apostando as corridas no jogo, sempre muito gentil. Me lembro que ele dizia que bateria nos outros garotos que me importunavam na rua.
Um dia eu cheguei em casa chorando porque alguns moleques me jogaram brita na rua, e aí quando ele e meu irmão que estavam em casa jogando me viram e expliquei o acontecido, ele disse:

- Vamos lá fora agora pra você me mostrar quem foi, vou acabar com esses moleques! 

Quando eu tinha mais ou menos uns oito ou nove anos... não me lembro exatamente, comecei a ter aqueles primeiros sinais de paixonites de criança. Então ficava com vergonha quando ele estava por perto, e sabia que era muito novinha então pensava que quando crescesse ele ia se apaixonar por mim, e íamos nos casar e meu deus, como é possível que eu pensasse um absurdo como esse? Crianças...
O que eu sei, é que durante minha pré adolescência soube que era muito a fim do meu vizinho. Tudo sobre a aparência dele me era atraente, e o fato de ele ter sido o primeiro garoto que eu gostei na vida, fez com que o seu tipo físico se tornasse o meu tipo físico inconsciente, o que é a pior coisa do mundo, porque eu acredito que por isso devia fazer terapia, afinal não estou falando apenas da aparência física, mas também da personalidade.
A verdade era que o Pedro não passava de um garoto mulherengo, muito bonito que torcia pro flamengo e sonhava em ser jogador de futebol. 
Saía com todas as meninas da escola, tinha uma namorada em cada lugar que frequentava, uma na escola, outra no trabalho, outra no curso, outra pra sair nos fins de semana... o problema é que na época em que eu era criança os caras não eram simplesmente galinhas, eles eram também excelentes mentirosos, e sabiam muito bem a arte do "não prestar". Acho que o Pedro teria ganhado uma grana se tivesse escrito um guia de "Como ser cafajeste". 
Hoje em dia o cara não precisa enganar ninguém, ele só diz: "Olha garota eu não quero nada sério, não quero te enganar estou sendo sincero" e então a menina acha que está no filme do Nicholas Sparks e que o cara vai se apaixonar por ela loucamente, e ela vai mostrar o quanto ele estava errado e eles serão um casal. Olha só como as coisas são, as pessoas se enganam sozinhas, nem precisam de alguém pra mentir para elas, e depois dizem que foram enganadas. Meu ponto é: Não se fazem mais galinhas como antigamente. Os caras antes precisavam saber não prestar, não era tão fácil, ele precisava saber mentir pra menina, dizia o que ela queria ouvir, fazia planos, fazia coisas gentis como comprar um presente ou buscá-la e levá-la em casa, existia todo um processo de conquista, até que finalmente ele saía com a garota e poderia ter a chance de acontecer alguma coisa ou não. Agora as pessoas não querem ser agradadas, querem exatamente o contrário, e assim quando um cara é um total babaca ele ganha a menina totalmente, pelo simples fato de que as pessoas sempre acham mais excitante aquilo que elas não possuem. Não existe mais uma conquista a ser feita, as coisas acontecem tão rápido que você já ganha tudo numa noite só.
Não estou aqui tentando jogar uma ideia moralista nas pessoas, nem dizer que isso se trata de "conquistas" ou jogos, não existe regra alguma pra essas coisas. Mas o que quero dizer é que não tem mais graça nenhuma essas fases da vida, esses momentos se perderam. Antes as pessoas demoravam meses só pra pegar nas mãos umas das outras, acho triste essa perca, minha geração é a mais sem graça de todas. Está todo mundo tentando se distrair o tempo todo pra não perceber o tédio insuportável que é a vida, e nesse processo não vivenciamos nada, porque estamos sempre com a sensação de que estamos perdendo tempo e pensando na próxima coisa que iremos fazer. Então nunca estamos realmente aqui.
Voltando aos meus problemas psíquicos iniciados na infância, todas as vezes que um garoto fofo é gentil comigo, ou tem aquele cabelo preto liso, ou é mulherengo, ou todas as coisas ao mesmo tempo, pronto! Fico gamada (esse adjetivo é muito ruim?). Quão ridículo somos? Quer dizer eu era uma criança, mas essas coisas ainda estão impregnadas em mim, sempre tenho uma queda por esse tipo de garoto, que coisa mais chata e sem criatividade. As mulheres sempre querem ser aquela que o cara vai largar todas as outras garotas só porque ela é a tal,  porque ela tem algo a mais que as outras. Cara isso aqui não é "Um amor pra recordar" acorda! Isso aqui é na verdade "O diário de um banana" ou então somos aquele garoto do "Meu primeiro amor" que vai buscar um anel idiota na floresta e morre por um enxame de abelhas. Os filmes de romance dos anos 90 estragaram a gente, não existem esses caras estranhos e fofos que vão fazer mil coisas pela gente, até porque nós também não fazemos, nesse mundo contemporâneo fazer algo é o mesmo que se anunciar um idiota, quanto mais você se importa mais loser você é.
E até hoje eu me lembro da pontada na barriga que sentia toda vez que eu o via, ou ouvia meu vizinho, era espontâneo e imediato, eu o via: a pontada vinha. Nunca mais senti essa pontada na vida! Apesar dos corações acelerados e das tremedeiras terem chegado, a pontada desapareceu. Os amores de infância tem um brilho especial, são inocentes demais e por isso mais adoráveis que ridículos. Segundo a minha versão mirim eu estaria casada com o Pedro neste momento e teríamos muitos cachorros. 
Essas trajetórias são incríveis, pense em tudo o que você já foi, imagine se pudéssemos nos comunicar com todas as nossas versões anteriores... Daríamos conselhos, iríamos dizer em quem confiar, como não cortar o cabelo, o que não dizer a sua mãe no dia que ela acordasse com o pé esquerdo... diríamos como aproveitar mais enquanto não temos que nos preocupar com todas essas responsabilidades que adultos tem, e em como ser adulto não significa nada em termos de saber o que fazer e o que queremos ser. Quando somos crianças somos cheios de certezas e quando crescemos cheios de dúvidas. A vida é esse paradoxo sem fim, sem sentido, a busca de algo que não sabemos o que é, mas estamos procurando assim mesmo porque não temos nada melhor pra fazer.

Mariana Carolina.
Foto: Annette Pehrsson Blog

6 de fev. de 2015

A GAROTA LEGAL ("The Cool Girl")


Olá leitores, vou inaugurar um tipo de post diferente hoje. Todas as vezes que eu gostar muito de algum fragmento de um livro, irei compartilhá-lo aqui com vocês. Existem coisas que valem a pena serem lidas, e por isso preciso reproduzir este incrível capítulo de Garota Exemplar, da brilhante Gillian Flynn aqui. 
Se eu pudesse andava com esse texto grudado na testa, e saía por aí distribuindo ele impresso em panfletos. (hahaha achou um exagero?)
Bem, a verdade é que eu e a maioria das mulheres concordam com o que a Amy (protagonista do livro) diz neste capítulo. Eu jamais conseguiria me expressar melhor. É uma crítica perfeita ao padrão de comportamento cobrado e reproduzido por milhares de mulheres que nem ao menos se dão conta das ações alienadas em massa. Existe ainda uma crítica implícita sobre os relacionamentos, e personalidades "padrão". (Não vou dizer que concordo com absolutamente cada palavra da personagem, porém a ideia central do monólogo me representa sim, e também a muitas outras mulheres)
Espero que gostem! Para quem não leu o livro e só viu o filme, o texto na íntegra é muito mais crítico e denso que o narrado nas telas. E para quem não tem interesse na história, independentemente leiam, compartilhem. Este capítulo é no mínimo interessante.

“[...] Eu estava fingindo, como muitas vezes fazia, fingindo ter uma personalidade. Não consigo evitar, foi o que sempre fiz: assim como algumas mulheres trocam de estilo regularmente, eu troco de personalidade. Qual persona parece boa, qual é cobiçada, qual está em voga? Acho que a maioria das pessoas faz isso, apenas não admite, ou se acomoda em uma persona porque é preguiçosa ou burra demais para mudar.
Naquela noite da festa no Brooklyn eu estava interpretando a garota que tem estilo, a garota que um homem como Nick quer: a Garota Legal. Os homens sempre dizem isso como o elogio definidor, não é? Ela é uma garota legal. Ser a Garota Legal significa que eu sou uma mulher gostosa, brilhante, divertida, que adora futebol, pôquer, piadas indecentes e arrotos, que joga vídeo game, bebe cerveja barata, adora ménage à trois e sexo anal e enfia cachorros-quentes e hambúrgueres na boca como se fosse anfitriã da maior orgia gastronômica do mundo ao mesmo tempo em que de alguma forma mantém um manequim 36, porque Garotas Legais são acima de tudo gostosas. Gostosas e compreensivas. Garotas Legais nunca ficam com raiva. Apenas sorriem de uma forma desapontada e amorosa e deixam seus homens fazerem o que quiserem. Vá em frente, me sacaneie, não ligo, sou a Garota Legal.
Os homens realmente acham que essa garota existe. Talvez se deixem enganar porque muitas mulheres estão dispostas a fingir ser essa garota. Durante muito tempo a Garota Legal me ofendeu. Eu costumava ver homens — amigos, colegas de trabalho, estranhos — babarem por essas medonhas mulheres fingidas, e eu queria sentar com esses homens e dizer calmamente: Você não está saindo com uma mulher, você está saindo com uma mulher que viu filmes demais escritos por homens socialmente estranhos que gostariam de acreditar que esse tipo de mulher existe e poderia beijá-los. Tinha vontade de agarrar o pobre coitado pela lapela ou mochila e dizer: A piranha na verdade não gosta tanto de cachorros-quentes com chili — ninguém gosta tanto de cachorros-quentes com chili! E as Garotas Legais são ainda mais patéticas: elas nem sequer fingem ser a mulher que querem ser, fingem ser a mulher que um homem quer que elas sejam. Ah, e se você não é uma Garota Legal, imploro que você não acredite que seu homem não quer a Garota Legal. Pode ser uma versão ligeiramente diferente — talvez ele seja vegetariano, então a Garota Legal adora carne de soja e é ótima com cachorros; ou talvez seja um artista de vanguarda, de modo que a Garota Legal é uma nerd tatuada e de óculos que adora revistas em quadrinhos. Há variações na fachada, mas, acredite em mim, ele quer a Garota Legal, que é basicamente a garota que gosta das mesmas merdas que ele e nunca reclama. (Como você sabe que não é a Garota Legal? Porque ele diz coisas como “gosto de mulheres fortes”. Se ele diz isso a você, em algum momento irá trepar com outra. Porque “gosto de mulheres fortes” é código para “odeio mulheres fortes”.) Esperei pacientemente — anos — para que o pêndulo oscilasse para o outro lado, para que os homens começassem a ler Jane Austen, aprendessem a tricotar, fingissem amar a revista Cosmopolitan, organizassem festas de scrapbooks e dessem uns amassos entre si enquanto nós assistíamos, babando. E então diríamos: É, ele é um Cara Legal.
Mas isso nunca aconteceu. Em vez disso, mulheres de todos os Estados Unidos conspiraram para nossa degradação! Em pouco tempo a Garota Legal se tornou a garota-padrão. Os homens acreditaram que ela existia — não era apenas uma garota dos sonhos em um milhão. Toda garota tinha que ser essa garota, e, se você não era, então havia algo de errado com você.
Mas é tentador ser a Garota Legal. Para alguém como eu, que gosta de vencer, é tentador querer ser a garota que todo cara deseja. [...]
Não posso dizer que não gostei de parte daquilo: comi biscoitos recheados de marshmallow, andei descalça, parei de me preocupar. Assisti a filmes idiotas e comi comidas cheias de aditivos químicos. Não pensei dois lances à frente em relação a tudo, esse foi o segredo. Bebia uma coca e não me preocupava em como reciclar a lata ou com o ácido fermentando em minha barriga, um ácido tão forte que era capaz de limpar uma moeda. Assistíamos a um filme idiota e eu não me preocupava com o sexismo ofensivo ou a falta de minorias nos papéis principais. Nem sequer me preocupava se o filme fazia sentido. Não me preocupava com nada que vinha depois. Nada tinha consequência, eu estava vivendo o momento, e podia sentir que ficava mais superficial e burra. Mas também feliz. [...]
Provavelmente fui mais feliz naqueles poucos anos — fingindo ser outra pessoa — do que jamais fui antes ou depois. Não consigo decidir o que isso significa.
Mas aquilo tinha de terminar, porque não era real, não era eu. Não era eu, Nick! Achei que você soubesse. Achei que fosse uma brincadeira. Achei que fosse um jogo implícito de piscadelas, de não pergunte, não diga. Tentei muito ser relaxada. Mas era insustentável. E na verdade ele também acabou não conseguindo sustentar o lado dele: as provocações inteligentes, os jogos espertos, o romance, o galanteio. Tudo começou a implodir. Odiei Nick por ficar surpreso quando me tornei eu. Odiei-o por não saber que aquilo tinha de terminar, por realmente acreditar que havia se casado com essa criatura, esse fruto da imaginação de um milhão de homens masturbadores, com dedos cobertos de sêmen. Ele realmente pareceu chocado quando pedi que me escutasse. Não conseguiu acreditar que eu não adorava depilar minha boceta com cera e pagar boquete quando solicitado. Que eu me importava, sim, quando ele não aparecia para os drinques com meus amigos. Aquela grotesca anotação em diário? Eu não preciso de patéticas cenas de macacos amestrados para repetir para minhas amigas; fico satisfeita deixando que ele seja ele mesmo.
Aquilo era pura baboseira de Garota Legal burra. Que estúpida do caralho. Mais uma vez, não entendo: se você deixa um homem desmarcar compromissos ou se recusar a fazer coisas para você, você perde. Não consegue o que quer. É evidente. Sim, ele pode ficar feliz, pode dizer que você é a garota mais legal que já existiu, mas está dizendo isso porque conseguiu o que ele queria. Está chamando você de Garota Legal para enganar você! É o que os homens fazem: tentam dar a impressão de que você é a Garota Legal para que faça as vontades deles. Como um vendedor de automóveis dizendo Quanto quer pagar por esta belezinha? quando você ainda não concordou em comprá-la. Aquela frase medonha que os homens usam: “Quer dizer, sei que você não se importaria se eu...” Sim, eu me importo. Simplesmente diga isso. Não perca, sua imbecil de merda.
Então aquilo tinha de parar. Entregar-me a Nick, me sentir segura com Nick, ser feliz com Nick me fez perceber que havia uma Amy Real ali dentro, e ela era muito melhor, mais interessante, complexa e desafiadora do que a Amy Legal [...] “

10 de jan. de 2015

SOLIDÃO.



   Você escuta isso?
   Ei, espera, não diz nada 
   Consegue ouvir agora?
   Isso bem baixinho...
   Não?
   Não dá para escutar. 
   Não é possível enxergar também...
   Isso aí só dá mesmo para sentir...
   E como é? Como é sentir a solidão?
   Ela vêm de mansinho,
   De forma que você só percebe,
   Quando suas distrações se vão
   Quando não há mais nada
   Que prenda sua atenção...
   Ha..., mas quando ela vêm
   Te toma por completo!
   De forma que é impossível ignorá-la
   De um jeito tão forte, tão intenso!
   A solidão dói, uma dor calada, funda
   Invisível, suas marcas ficam cravadas
   Dentro, naquele lugar especial...
   Aquele que todo mundo finge não existir
   Não sentir...
   Mas a dor da solidão se dá na alma, 
   Até mesmo no espírito, não há consolo
   Só o que há é dor. 
   Sinta a sua dor
   Aceite sua solidão
   Todos nós sabemos que no fim
   Morremos sozinhos
   Não importa o que façamos,
   Esse é o destino inevitável
   Então apenas se deixe sentir...
   A dor que de tão doída 
   Passa a não ser mais dor,
   Que de tanto doer, 
   já tem anestesia própria,
   Fazendo com que já não se sinta nada,
   Nada mesmo, nem de bom, nem de ruim,
   E assim já estamos mortos 
   Mortos por dentro, que de tanto sentir
   Nos tornamos vazios, e agora
   Apenas não sentimos.
   Nada.


Mariana Carolina.