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29 de abr. de 2014

CARTA PARA UM ANÔNIMO



         Hey garoto despreocupado, como vai você?. - Sabe você me intriga bastante, fico imaginando quantas versões existem de você, e qual delas será a escolhida para interagir comigo. Acho que a sua personalidade é meio confusa, afinal, não é um pouco estranho um garoto que curta poesia também gostar de sertanejo? Tudo bem, eu sei que é preconceito e que aparentemente uma coisa não tem a ver com a outra; mas me intriga uma pessoa com sensibilidade para a escrita (e que escreve muito bem por sinal), também ser um baladeiro pegador. Quer dizer, não é sempre que um fã de MPB e de Mário Quintana, também goste de Cannabis e luxúria..., tá, eu sei que os escritores levavam uma vida boêmia, mas ainda assim o acho contraditório. Talvez seja por isso mesmo que o ache interessante, é engraçado, devo te superestimar por coisas superficiais que eu infelizmente valorizo.
      Você é paciente, calmo, educado e tranquilo, mas por dentro parece julgar e observar a todos, parece se sentir acima de muitas coisas, é seguro, malicioso e charmoso, e não consigo encontrar traços de sensibilidade ou vulnerabilidade quando te vejo. Queria saber o que o faz perder a cabeça, o que o deixaria louco? Não consigo imaginar algo que o faria sair dessa posição centrada e focada, como se tudo estivesse cuidadosamente planejado e calculado. Ao mesmo tempo me assustaria vê-lo de outra forma, acho que me acostumei com sua redoma particular, onde só você escolhe quem pode ver através dela. Não tenho a pretensão de adentrá-la, mas não me impeço de pensar em como seria, o que tem dentro? O que esconde aí? E por que eu quero saber? Me estranho com minhas próprias estranhezas, talvez não haja nada demais aí dentro, e minhas especulações sejam completamente equivocadas.
     Eu fico mesmo é fascinada pelas possibilidades de conexão e aprendizados que temos quando nos conectamos no universo particular que existe em cada um, as vezes a ideia de conexão me consome, fico procurando sentidos inexistentes nas coisas, nas pessoas, nas situações... .
      Acho que nunca te conhecerei de verdade, então tudo nunca passará de um resquício de possibilidade; não controlamos as situações que aproximam-nos uns dos outros, é tudo natural e espontâneo, as coisas apenas vão acontecendo sozinhas sem motivos..., nossos caminhos passarão muito distantes um do outro, por mais que eu possa te enxergar de muito longe da minha rua, será apenas isso, uma visão a ser contemplada ao longe.
      Mas é assim mesmo não é? As pessoas que nos parecem algo a mais, sempre são as últimas as quais conseguimos contato, basta dizer "hey aquela pessoa do curso parece muito legal, quero me aproximar dela" para essa pessoa ir para o mais longe que poderia de estar com você. Basta querer para não ter, parece que precisamos não querer para acontecer, não pensar para tornar-se realidade, não é isso que chamam de lei de murph? Talvez você seja uma dessas leis de murph, e tudo não passe de uma extrema ironia, quer dizer, as nossas vidas são apenas coordenadas incessantes da lei, e tudo o que nos resta é admirar de longe o que poderia ter sido, e assim deixar tudo ir... .

Mariana Carolina.

Foto: RJ SHAUGHNESSY PHOTOGRAPHY